Estávamos recentemente acampando perto da fronteira entre a Geórgia e a Flórida, as crianças estavam se preparando para dormir, quando correram para o nosso quarto, assustadas. “Thor engoliu um anel!”, elas gritaram.
Thor, nosso caçula, parecia mais nervoso que os outros. Ele explicou que colocou um anel de brinquedo na boca e o engoliu sem querer. Demos a ele água e um pedaço de pão para garantir que não ficasse preso na garganta, e todos dormimos.
No dia seguinte, levei-o para um raio-x para descobrir onde estava o anel. Queríamos saber se estava preso no estômago ou já havia passado para o intestino.
Alguns segundos após o exame, a imagem resultante apareceu em um monitor ao meu lado. Tirei uma foto da tela do computador com meu celular e mandei para Beta enviar para seu primo, um médico. Agradeci à enfermeira e saí do quarto.
No corredor, um dos médicos do hospital nos parou para dizer que não poderíamos sair até que eu recebesse um envelope com a placa de raio-x. Expliquei que não precisava, que já tinha tirado foto da tela, e pra mim, bastou. Agradeci e fui embora. Ele insistiu, dizendo que preferia que eu esperasse, e eu disse que não preferia e continuei andando. Mas Thor imediatamente agarrou minha mão e disse que eu não poderia ir porque o médico nos disse para ficar.
Em 1961, Stanley Milgram projetou um estudo para investigar como as pessoas se comportam quando figuras de autoridade lhes dizem para fazer algo que preferem não fazer. Ele relatou que, quando instruídos a fazê-lo, 65% dos participantes do estudo administraram repetidamente o que acreditavam ser choques elétricos cada vez mais dolorosos a alguém que mostrava dor apenas porque alguém em um jaleco lhes disse para fazê-lo. Isso significava que 65% da população mataria alguém se uma autoridade mandasse. Muitas pessoas boas giraram o dial para 450 volts naquele dia em que sua coragem de desobedecer era mais fraca do que o risco de matar alguém. É assim que fomos preparados para obedecer desde o jardim de infância.
Lembrei-me da experiência de Milgram e disse ao meu filho que não precisávamos obedecer ao médico. Expliquei a ele que, por causa de como todos fomos criados, às vezes podemos acreditar que devemos fazer algo só porque alguém nos disse, mas que muitas vezes cada um de nós sabe melhor o que deve e o que não deve fazer.
Acredito que o pouco tempo que Thor passou na escola foi suficiente para ele pensar que sempre precisava fazer o que alguma figura de autoridade dizia. Essa é a função real das escolas. E não ensinar sobre nomes de morros onde se travaram batalhas, fórmulas matemáticas inúteis, nomes de reis, mapa do gosto da língua ou qualquer conteúdo que hoje esteja prontamente disponível na internet.
O objetivo da nossa escola é formar cidadãos obedientes e consumidores. Por trás das regras arbitrárias, há um currículo oculto de submissão.
Então, o maior problema é: quem passa 12 anos na escola sendo treinado para obedecer, na maioria dos casos aprende a passar o resto da vida sabendo apenas obedecer. Seja a seus patrões, seus clientes, seus medos ou à economia – e não a seus próprios desejos.
Thor e eu saímos do hospital com ele olhando para trás, pensando que seríamos perseguidos ou que ele acabaria sendo mandado para a sala do diretor. Eu lhe disse que nosso problema hoje não é as pessoas quebrarem as regras, mas segui-las cegamente. São pessoas que obedecem a lei que bombardeiam outros países, que emprestam dinheiro a juros e pagam salários mínimos.