Sempre gostei de escalar. Fossem árvores, pedras ou escaladas urbanas.
Por isso, esta semana chegamos a Yosemite e fomos até a base da montanha El Captain, aquela que aparece no documentário Free Solo. A montanha é de tirar o fôlego. O filme também. A princípio, o filme parece ser sobre a coragem de escalar uma montanha de 3.000 pés sem corda. Mas o documentário é muito mais do que isso. Como mostra o protagonista, com bastante prática, qualquer um pode escalar até com o pé quebrado.
A verdadeira coragem, revela o filme, é fazer o que você ama em um mundo onde quase todo mundo desistiu de seus sonhos de ser artista, atleta ou aventureiro para se tornar funcionário, médico, empresário, gerente de franquia ou advogado.
O filme mostra uma criança que gosta de escalar rochas e se atreve a continuar fazendo isso ao longo dos anos.
Mas, por medo de acabar morando em uma van como o protagonista, a maioria de nós escolhe o caminho mais seguro e desiste da aventura. Escolhemos uma vida cheia de cordas e redes de proteção. Cheia de seguros, contracheques, cadeados, garantias, poupança e backups. E em troca, concordamos em deixar de lado o que nos fazia felizes para podermos sentir uma falsa sensação de segurança.
Para compensar a falta de aventura em nossas vidas, apelamos aos eletrônicos, que nos trazem filmes, partidas e séries de TV onde outras pessoas se aventuram por nós.
É por isso que atores e atletas são os profissionais mais bem pagos do mundo. Porque eles entregam a coisa mais valiosa, hoje: eles nos distraem de nossas próprias vidas monótonas, trazendo falsas aventuras ou falsa sensação de realização quando nosso time vence.
Como qualquer vício, essas coisas acalmam temporariamente, mas não satisfazem nossa necessidade de aventura e realização. Então, precisamos rapidamente achar outra série de TV quando terminarmos uma, precisamos assistir outro jogo na próxima semana.
A verdadeira aventura é outra coisa, é a disposição de enfrentar o imprevisível. É ter a coragem de seguir nossos próprios desejos e não os planos traçados por nossos chefes, clientes, pelos nossos pais ou pelo dono da franquia. É ter coragem de correr o risco de falhar pelos padrões dos outros.
“Tudo o que fazemos por necessidade, tudo o que é esperado da gente, repetido dia após dia, é mudo”, escreveu Milan Kundera em A Insustentável Leveza do Ser.
No final do documentário, o cara consegue escalar a montanha e, recentemente, ficou famoso. Mas bem antes da aventura, desde que decidiu ser fiel aos seus sonhos e fazer o que amava, ele já era feliz e bem-sucedido.
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Abração,
