Não é uma falha do sistema

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Algumas pessoas criticam o atual sistema educacional dizendo que ele não cumpre seu papel de preparar as crianças para uma vida bem-sucedida em nossa sociedade. Algumas pessoas acham que as escolas são um fracasso porque, depois de tantos anos de ensino, as crianças vão para a faculdade sem quase nada para mostrar além de terem decorado fatos inúteis, fórmulas e datas, coisas de que nunca precisarão.

Mas eu acredito que nosso sistema educacional é um sucesso. Que ele cumpre muito bem sua função. É por isso que está aí há tanto tempo, recebendo cada vez mais dinheiro e apoio de políticos e grandes empresas.

É que a função do nosso sistema educacional nunca foi ensinar uma criança a pensar por si própria. Segundo o filósofo Daniel Quinn, uma das principais funções de nossas escolas é manter os jovens fora do mercado de trabalho pelo maior tempo possível. Em vez de permitir que as crianças comecem a experimentar o que poderia ser sua futura profissão, aos 14 ou 15 anos, o sistema mantém esses jovens como consumidores, aprendendo sobre a tabela periódica e fórmulas matemáticas enquanto gastam bilhões de dólares do dinheiro de seus pais. “Imagine o que aconteceria com nossa economia”, diz Quinn, “se, de repente, as escolas de ensino médio fechassem suas portas. Em vez de ter cinquenta milhões de consumidores ativos por aí, de repente teríamos cinquenta milhões de desempregados. Seria uma catástrofe econômica”.

A economia não pode suportar nossos filhos fazendo algo útil das suas vidas.

O que vemos como falhas do sistema escolar é uma parte bem pensada do sistema. Outros dois exemplos de como as escolas cumprem bem sua função:

Se eu quisesse fazer uma criança acreditar que seu trabalho será mais importante do que a sua própria família, e que mais tarde ela tope abandoná-los cinco dias por semana, eu a tiraria de casa todas as manhãs desde que ela tivesse cinco anos, querendo ou não. E não importa se ela está saindo de casa apenas para aprender o nome das cores ou dos animais – algo que ela iria aprender mesmo estando em casa. O objetivo não é educá-la, mas separá-la de seus entes queridos até que possa ver tudo isso como “normal”.

Outra coisa: se eu quisesse criar uma sociedade que promovesse a competitividade em vez da cooperação, criaria um modelo escolar que puniria as crianças que ajudassem seus amigos com dificuldades nas provas. Eu também desenvolveria categorias como primeiro da classe, representante de turma, aluno nota A, orador… estimulando os alunos a brigarem por suas posições na hierarquia, para que as crianças fossem incentivadas a buscar status e competir – em vez de aprender juntas e colaborar umas com as outras.

Eu costumava pensar que o orientador da escola sabia mais do que eu sobre as necessidades do meu próprio filho. Eu achava que um burocrata no governo ou o diretor da escola sabiam qual o currículo ideal para alguém que seria um profissional daqui a dez anos. Mas, na verdade, o que eu estava fazendo era apenas me livrando da responsabilidade de educar meus próprios filhos. O que estava por trás da minha ideia de terceirizá-los para uma escola era o fato de que, se algo desse errado, eu poderia dizer que fiz o meu melhor: mandei-os para escolas caras e paguei por aulas particulares e cursos preparatórios. 

Mas, agora, sinto que não estava fazendo o meu melhor. E que, por mais que escolas e professores tenham boas intenções, meus filhos não são filhos deles, que estão ali apenas profissionalmente. Isso faz muita diferença. A responsabilidade é minha e, mais ainda, é de cada um dos meus filhos.

Agora aprendi que, se alguma vez pensei que não era competente para educar meus próprios filhos, deveria ter questionado o sistema que me fez acreditar nisso.

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Há alguns anos eu saí de casa, fechei minha empresa, tirei as crianças da escola e passei a viver com minha esposa e cinco filhos rodando num motorhome.

Eu continuo sem nenhuma ideia de onde vamos parar – mas aos poucos estou aprendendo a ficar ok com isso.

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