Na correria

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Como a maioria dos meus colegas, eu estava sempre ocupado. Estar ocupado era um símbolo de status. Ainda é. Se eu estava sempre na correria, com pressa, isso significava que eu tinha muitas coisas importantes para fazer, que eu era aquela pessoa importante tendo que fazer tudo aquilo. Dizer que estava ocupado era uma maneira de me gabar sem parecer que estava me gabando.

Eu tive pressa toda a minha vida. No primeiro ano da faculdade, já estava faltando às aulas para trabalhar em uma agência de publicidade, e no segundo ano, achando que o curso estava muito lento, vendi meu carro e fui estudar design em Londres. Eu estava sempre correndo. Muitas vezes tinha a impressão de estar em um trem olhando meus amigos de escola parados nas plataformas.

Anos depois, com várias filiais e clientes em diferentes cidades, tive o orgulho de dizer aos meus amigos que tinha acabado de chegar de uma viagem de negócios e partiria para outra ainda na mesma semana. Estava sempre fazendo alguma coisa – exceto as coisas que importavam. Eu tinha pouco tempo para a família e ainda menos tempo para pensar na minha vida e sobre o que estava fazendo dela.

Além disso, trabalhar muito é sempre uma maneira eficaz de fugir de situações difíceis, como ter conversas profundas com sua parceira ou filhos. É fácil ficar distante daqueles ao seu redor quando você está super preocupado com um lance no trabalho ou tem uma viagem ou reunião ultra importante para participar.

Sempre pensei que não poderia largar ou reduzir minha carga horária com base na premissa de que o sucesso financeiro vem apenas com trabalho duro e sacrifício. Mas a verdade é que hoje o preditor mais certo da riqueza financeira futura de alguém não é o trabalho duro, mas a renda da família em que ela nasceu, quanto seus pais ganham e quem eles conhecem.

O problema é que isso não é divulgado porque nossa oligarquia trabalha duro para espalhar o mito da meritocracia. A mentira de que qualquer um pode ter sucesso com muito trabalho. A disseminação dessa falácia tem como objetivo fazer com que as classes média e baixa acreditem que merecem o que estão ganhando no nosso “livre mercado”. Se você trabalha para alguém que lhe paga um salário baixo, a culpa é sua que não fez decisões diferentes no passado. E se alguém acumula um bilhão de dólares, ele deve merecer porque é o livre mercado que o premia.

Além disso, os raros exemplos de pessoas nascidas pobres que conseguiram enriquecer são exaustivamente divulgados em livros, histórias e filmes, enquanto suas conexões familiares ou seus eventos de sorte são removidos da narrativa.

Ninguém fala sobre o fato de que a mãe de Bill Gates se sentou no mesmo conselho que o CEO da IBM e o convenceu a arriscar na nova empresa de seu filho. Ou que Jeff Bezos começou a Amazon com US$ 300.000 em capital de seus pais e mais dinheiro de alguns amigos ricos. Ou que o pai de Elon Musk era dono de uma mina de esmeraldas na África do Sul. Só ouvimos falar de suas garagens. O objetivo é que todos acreditem que a riqueza dos ricos são os pagamentos justos com os quais a sociedade recompensa aqueles que contribuem para a comunidade enquanto aqueles que não têm dinheiro não se esforçaram o suficiente.

A maioria das pessoas não percebe que o sistema econômico e social que permite que a riqueza seja mantida nas mãos das mesmas famílias por décadas e décadas é moldado e mantido por políticos que foram eleitos com dinheiro dessas mesmas famílias.

A verdade é que vivemos na terra das oportunidades onde, com muito trabalho, qualquer pessoa pode enriquecer – o seu patrão.

Aqui vão três livros legais sobre o tema. Esse, esse e esse aqui.


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Há alguns anos eu saí de casa, fechei minha empresa, tirei as crianças da escola e passei a viver com minha esposa e cinco filhos rodando num motorhome.

Eu continuo sem nenhuma ideia de onde vamos parar – mas aos poucos estou aprendendo a ficar ok com isso.

Clique aqui se você quiser ler do início.