Claramente, eu também não fazia parte do 1% da população apaixonada pelo que faz. Apesar dos bons momentos no trabalho, da chegada de novos clientes e da criação de uma peça linda, com frequência eu tinha vontade de fazer algo diferente.
Meu trabalho teve vários bons momentos, como é possível que o seu tenha. Mas foram justamente aqueles momentos que, por muito tempo, me fizeram acreditar que eu gostava do que fazia. É fácil confundir o prazer de conquistas financeiras, promoções e reconhecimento com realmente gostar do que se faz.
Funciona assim: no começo da vida profissional você recebe seu salário, ou fecha um negócio, ou entrega um projeto para um cliente e é pago por isso. Você fica feliz com essa conquista financeira e, com o tempo, seu cérebro começa a associar essa felicidade à conclusão de tarefas no trabalho. E então começa a confundir a profissão com prazer, como o cachorro de um Pavlov salivando ao som da campainha errada.
É por isso que o teste final para descobrir se realmente gostamos do que fazemos é perguntar a nós mesmos: “Será que eu faria exatamente o que faço mesmo que não ganhasse dinheiro por isso?” ou “Eu me dedicaria a outra coisa, um hobby, uma paixão, se eu já tivesse todo o dinheiro de que preciso pra viver?”. A lógica aqui é que as pessoas que realmente gostam de ir ao cinema estão dispostas a gastar seu dinheiro para assistir a um filme. As pessoas que amam uma banda em particular pagarão com prazer para ver seu show.
Mas a verdade é que, hoje, a maioria das pessoas não continuaria a fazer o que faz se não fosse pelo dinheiro. A maioria delas nem faria de graça, muito menos pagaria por isso. O problema é que vender nossa liberdade, nosso tempo, nossa mente e nosso corpo para clientes ou patrões parece mais prostituição do que paixão.
Hobbes foi o primeiro cara a escrever sobre os contratos que fazemos uns com os outros, abrindo mão de nossa liberdade de fazer o que queremos com nossos dias. Ele escreveu principalmente sobre os acordos que fazemos com governos, dispostos a seguir algumas regras por um bem maior. Suas ideias se tornaram a base de nossa vida profissional: sobre como cedemos nossos dias para beneficiar uma empresa em troca de algum dinheiro.
Hoje vendemos nossa liberdade, nosso tempo, mente e corpo em troca de dinheiro, proteção e status. Essa troca remonta pelo menos ao período feudal, quando a realeza fornecia a segurança de uma cidade murada em troca de que nós, camponeses, trabalhássemos meio período para eles. Naquela época, cumpríamos ordens em troca da segurança contra a invasão dos bárbaros. Hoje, cumprimos ordens em troca da segurança de um contracheque.
E assim como a escravidão pode ser vista como a venda da liberdade de uma pessoa para outra, o trabalho de hoje em troca de dinheiro mensal pode ser visto como o aluguel de nossa liberdade – por nós mesmos.
Isso significa que basicamente evoluímos da escravidão, em que as pessoas eram forçadas a fazer o que os outros lhes diziam por medo de serem espancadas ou mortas, para hoje, quando as pessoas se sentem obrigadas a fazer o que seus chefes, clientes e a economia querem por medo de se tornarem pobres.
O medo de ficar pobre me segurou por muito tempo. Outra coisa que me fez relutante em mudar minha vida foi a percepção do custo irrecuperável de tudo o que eu tinha investido. Passei anos na faculdade, e depois vários estágios e tantos sacrifícios, que eu não queria nem me perguntar se realmente gostava da minha profissão. Se era isso que eu queria realmente fazer a maior parte do meu tempo aqui na Terra. Não parecia uma decisão racional largar tudo. Mas li em algum lugar que a racionalidade é, na maioria dos casos, só medo disfarçado de sabedoria.
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