Em 1990, um turista estava perto das esfinges do Egito quando notou uma pequena pedra sob a areia onde estava. Tentou mover a pedra, mas não conseguiu. Ele informou ao guia que o acompanhava e o guia notificou as autoridades locais. Foram enviados arqueólogos, que descobriram um vasto cemitério de 4.500 anos com as catacumbas dos trabalhadores da pirâmide.
Antes dessa descoberta, muito do que sabíamos sobre aqueles que trabalhavam nas pirâmides vinha do historiador Heródoto, que chamava os trabalhadores das pirâmides de escravos. É por isso que temos hoje na memória aquelas imagens dos filmes com eles acorrentados, sendo chicoteados.
Mas a descoberta das catacumbas de Gizé contou outra história. A partir da análise óssea, os arqueólogos descobriram que os trabalhadores eram muito bem alimentados, suas feridas eram tratadas com cuidado e, quando morriam, eram enterrados junto com seus salários em ouro e cevada. Bem diferente da imagem que temos de uma pessoa escravizada. Com base nos ossos de animais encontrados nos estômagos dos restos mortais e outras descobertas no local, os arqueólogos estimam que mais de 4.000 quilos de carne – de gado, ovelhas e cabras – eram servidos todos os dias em um bufê para alimentar bem os construtores da pirâmide.
Mas a maioria dos livros de história ainda retrata os generais do faraó com chicotes na mão ameaçando os trabalhadores.
Como Daniel Quinn explica em seu livro Beyond Civilization, o faraó Khufu (Quéops) não precisava exercer mais controle sobre seus trabalhadores em Gizé do que o faraó Bill Gates exerce hoje sobre seus trabalhadores na Microsoft. “Afirmo”, diz ele, “que os trabalhadores egípcios, relativamente falando, tiraram tanto da construção da pirâmide de Khufu quanto os trabalhadores da Microsoft tiram na construção da pirâmide de Bill Gates”.
Não é preciso nada de especial para fazer as pessoas dedicarem suas vidas à construção de pirâmides se elas acharem que não têm escolha melhor ou que ficarão pobres se não o fizerem. “Elas vão construir o que quer que mandem elas construírem”, completa Quinn, “seja pirâmides, garagens ou programas de computador”.
Como vários sociólogos apontam, vivemos hoje em uma era com o número mais significativo de pessoas escravizadas na história da humanidade: nós. Mas muitas pessoas ainda associam escravos a correntes e chicotes e consideram normal que a maioria das pessoas dedique a maior parte de seu tempo acordado a fazer coisas que realmente não amam. Em troca de seu sustento ou para adquirir símbolos de status programados em suas cabeças pelas mesmas empresas que vendem esses símbolos.
A genialidade do nosso sistema atual é que a maioria das pessoas escravizadas não se vê como tal porque pode escolher quem serão seus senhores. Porque eles não veem correntes nos pés e podem escolher para qual empresa ou cliente prestar serviço. Não percebem que todos nós fomos programados para pensar que é normal passar oito horas por dia dentro de um escritório.
Eu nunca tinha notado minhas correntes invisíveis. E eu não me via como um senhor de escravos que eu era quando tinha dezenas de funcionários. Também sofri lavagem cerebral e por isso não via.
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