Durante um jantar de Páscoa, um menino de sete anos chamado Solomon observou os adultos servirem uma taça extra de vinho e a deixarem no canto da mesa. Ele perguntou para quem era o vinho e os adultos explicaram que era para o profeta Elias (uma espécie de Papai Noel judeu). No final da noite, eles apontaram para o vidro e disseram a Solomon: “Olha! Você vê que há menos vinho no copo do que no início da noite? Está vendo?”.
O pequeno não sabia o que fazer. Ele se sentiu pressionado a concordar com os adultos, para não parecer rude. Mas a verdade é que ele nunca acreditou que o vinho havia diminuído.
Quarenta anos depois, o menino se tornou o professor de psicologia Solomon Asch, no Swarthmore College, na Pensilvânia – perto de onde estou acampado esta semana –, e decidiu fazer um experimento para testar o quanto a pressão de outras pessoas influencia nosso comportamento.
Para a investigação, oito pessoas se sentaram ao redor de uma mesa. Sete eram atores e apenas um dos participantes estava sendo testado. Solomon explicou que mostraria um pôster com uma linha reta desenhada e depois mostraria um segundo pôster com mais três linhas.
A tarefa era fazer o participante responder qual das três linhas era a mais parecida em comprimento com a linha do primeiro pôster. Quando o professor Asch mostrou o segundo pôster, ficou evidente que a terceira linha era idêntica à do primeiro pôster. Mas como todos os outros participantes disseram primeiro que a linha semelhante era a do meio, o aluno foi com a maioria e afirmou que a segunda linha era a certa. Mas essa não foi uma atitude apenas desse aluno. Solomon repetiu o experimento dezenas de vezes e, na grande maioria delas, as pessoas, pelo menos uma vez, disseram resposta errada pra ir com a maioria.
Essa pesquisa ficou conhecida como Asch Compliance Experiments e mostrou como todos somos, de uma certa forma, influenciados pelas pessoas e pelo ambiente.
Todos nós gostamos de nos ver como livres-pensadores, mas não percebemos que na maioria das vezes estamos apenas seguindo programas de outras pessoas. Fazemos três refeições por dia, e não duas ou quatro, por conveniência das fábricas durante o período industrial e não por nossa preferência ou porque faz bem ao nosso corpo.
Não percebemos que dividimos nossas vidas em semanas de sete dias por causa dos babilônios, que há 4.000 anos acreditavam que havia sete planetas e decidiram separar os dias em grupos de sete. Uma prática que mais tarde se espalhou para o Egito, depois para Roma. Mais tarde, os líderes religiosos reservaram um desses sete dias para que as pessoas pudessem visitar seus templos, orar e fazer doações. E 42 séculos depois, na década de 1930, o industrial Henry Ford, pressionado pelos sindicatos, instituiu o fim de semana de dois dias em suas fábricas. Assim, teríamos um dia para orar e outro para cuidar da casa – e, segundo Ford, comprar coisas.
Por falar nisso, mais recentemente, algumas empresas testaram uma semana de quatro dias. O caso mais famoso foi o da Microsoft, em Tóquio, onde a produtividade não diminuiu, mas cresceu mais de 40%, e a experiência teve a aprovação de mais de 90% dos funcionários. Apesar do sucesso, a prática não foi difundida. Uma das principais razões para isso é que as empresas sabem que quando os funcionários passam mais tempo com sua família ou hobbies, eles começam a se questionar se deveriam passar ainda mais tempo com quem amam e suas paixões. E terminam trocando seus empregos pra fazerem coisas melhores das suas vidas.
Como explicou David Graeber no livro Bullshit Jobs, “a classe dominante descobriu que uma população feliz e produtiva com tempo livre em suas mãos é um perigo mortal”.
Uma pessoa com o nariz colado no teclado por cinco dias e só se levantando para beber e assistir séries nos finais de semana não tem tempo nem oportunidade de questionar se o que está fazendo da vida é o melhor para ela.
O que é uma boa ideia para os babilônios não é necessariamente bom para você. Uma decisão de um industrial há quase 100 anos não significa que seja o melhor formato de vida para sua família.
Esse foi um dos motivos que nos levou a vir nesta aventura, sair um pouco de perto dos babilônios e das pessoas dizendo qual das linhas dos cartazes é a certa pra gente.
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