Alguns dos maiores clientes da minha antiga agência eram políticos, principalmente governos e prefeituras. Foram eles que mais ajudaram a me desanimar com o que eu estava fazendo e sair. E por isso sou grato. Eu ainda poderia estar lá se não fosse por eles. Mais de uma vez, vi esses clientes gastarem mais dinheiro para promover o que estavam fazendo do que para resolver os problemas. Parecer que estavam trabalhando era mais importante do que melhorar a vida das pessoas.
O trabalho de comunicação política pode ser dividido em duas partes. Uma é mais conhecida, a outra nem tanto. A parte mais notável do trabalho é fazer com que esses políticos pareçam mais competentes do que realmente são e que seus interesses estejam alinhados com a população. As pessoas querem votar naqueles que parecem querer ajudá-las e que têm competência para isso. Esse trabalho é feito por agências de publicidade – como era a minha –, produtoras de vídeo e empresas de relações públicas.
O outro trabalho do marketing, menos conhecido, que a classe política exige, é fazer as pessoas acharem que as coisas vão melhorar se o candidato certo vencer a próxima eleição. É fazer as pessoas acreditarem que existe uma importante disputa entre a direita e a esquerda.
Mas a verdade é que essa dicotomia já foi relevante, mas não é mais a principal. Hoje a verdadeira disputa é entre uma pequena minoria, formada por pessoas muito ricas, que têm poder sobre o resto da população, e a grande maioria, que não tem nenhum ou quase nenhum poder.
A realidade é que, quer os candidatos da direita ou da esquerda ganhem as próximas eleições, nada de relevante mudará na vida da grande maioria das pessoas. Como não mudou nas últimas décadas. Isso acontece porque esses dois lados são eleitos com dinheiro recebido por aqueles extremamente ricos. Então, sua principal tarefa é manter as coisas basicamente como estão.
Trabalhei para os dois lados do espectro político. Quem estivesse pagando mais. O candidato da direita dirá que quer dar mais liberdade às pessoas para produzirem e trabalharem; que irá fazer a economia crescer e impedir que o país vire socialista. Mas ele sabe bem que o país já é socialista para os ricos, pois o governo tira dinheiro dos pobres, por meio de impostos, e usa para ajudar as empresas com benefícios fiscais e recuperações judiciais amigas. O país só é capitalista para os pobres, que têm que suportar um governo que tolera que as empresas paguem salários tão baixos. O candidato da direita sabe que, quando a economia cresce, o dinheiro não vai para o bolso dos pobres. Nunca vai de forma relevante.
O candidato da esquerda vai dizer que quer ser eleito para redistribuir melhor a riqueza, mas sabe que também mente. Ele, ou pessoas de seu partido, já foram eleitos antes, mas a diferença entre os muitos ricos e os pobres só aumentou durante seu mandato. Só tem aumentado há décadas.
Embora os políticos queiram ser eleitos por uma questão de poder pessoal, a disputa entre esquerda e direita é principalmente como o Telecatch – é show pro pessoal ver na TV.
Agora, a maioria dos leitores deve estar certa de que estou enganado. De que realmente faz diferença se o candidato ou o partido delas vencer. Mas não estou dizendo que não faz diferença. Estou dizendo pior. Estou falando que a diferença que faz é insignificante em comparação com o que eles poderiam fazer se melhorar a vida das pessoas fosse realmente sua prioridade. Mas não é. O foco de todos eles é não mexer em nada estrutural no sistema que os elegeu. O resto é firula.
Para realmente melhorar a vida da população seria preciso alterar a alocação de poder, e o trabalho dos políticos é justamente evitar essas grandes mudanças. Isso acontece porque grandes corporações de propriedade de pessoas muito ricas precisam de pessoas pobres que toleram deixar suas famílias quase todos os dias durante anos para fazer coisas chatas que as empresas daqueles precisam. Os ricos só conseguem essa mão de obra barata se a maioria da população for pobre ou, no caso da classe média, tiver medo de ficar pobre. É por isso que os políticos têm meios – e eles têm – mas optam por não eliminar a pobreza com ações como a Renda Básica Universal ou muitas outras: os pobres são essenciais para as grandes empresas conseguirem mão de obra barata. E são essas grandes empresas que doam dinheiro aos candidatos.
Embora agências de publicidade como a minha, produtoras de vídeo e empresas de relações públicas trabalhem para criar a fachada do debate eleitoral, o papel mais significativo para fazer a população acreditar que a disputa direita/esquerda ainda é relevante cabe à imprensa. Os jornalistas de ambos os lados são os que escondem obedientemente que o conflito real é entre aqueles que têm poder e dinheiro e aqueles que gostariam de ver alguma mudança no sistema atual. O trabalho da maioria dos jornalistas é fingir que há uma disputa real, que vivemos em uma democracia e que as opiniões e desejos das pessoas são importantes. Mas a verdade é que vivemos hoje em uma oligarquia, onde somos governados pela vontade de alguns poucos muito ricos que compram eleições e políticos por meio de doações de campanha, lobbies, subornos ou a combinação dos três. Como diz o ditado, “o trabalho do jornalismo é cobrir as questões importantes – com um travesseiro, até que elas parem de se mexer”.
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